
As conferências a cargo de Miguel Real realizar-se-ão em Bissau e na Universidade Federal de Belém do Pará, versando os temas “Vieira e a Escravatura” e “Vieira, vida e obra”.

Padre António Vieira é, em Portugal, um dos autores pioneiros do multiculturalismo. Na sua vida e obra, Padre António Vieira defendeu as duas minorias étnicas prevalecentes no Brasil do século XVII –os escravos negros e os indígenas. Toda a sua defesa dos povos negros e índios residiu numa política de inclusão social pela qual, segundo uma perspectiva cristã, estas minorias deveriam ser elevadas a um patamar superior de civilização, obviamente identificada com a europeia. No entanto, ainda que fundamentada numa visão eminentemente cristã e europeia, a perspectiva multiculturalista de Padre António Vieira consolida-se a partir da reprovação feita em diversos dos seus sermões relativo ao tratamento cruel infligido pelos senhores de engenho contra os trabalhadores negros. Padre António Vieira admoesta a elite branca por manter os negros em regime de trabalho intensivo, desumano e atroz nas plantações de açúcar, a que chama “inferno doce”, exigindo o respeito cristão e um tratamento humano para os negros. Nunca pede a abolição da escravatura, mas, dentro deste regime, exige dos governadores do Brasil e dos senhores brancos um olhar humano e cristão que progressivamente vá socialmente integrando o trabalhador.
No que refere aos índios, Padre António Vieira, no seguimentos dos seus antecessores jesuítas, respeita os dialectos da língua tupi, aprendendo-os, de modo a efectuar a catequização nesta língua. Face aos colonos brancos, que intentavam destruir os povoados índios e condenar os seus habitantes à escravatura, Padre António Vieira, no Pará e Maranhão, defendeu a criação de missões onde, através de educação cristã, os índios eram integrados numa nova sociedade. Se devido à sua luta Padre António Vieira foi expulso pelos seus congéneres brancos, sem ela os índios teriam sido todos escravizados.